Noites de lua cheia... |
Na pacata cidade de Birigui, onde o tempo seguia um ritmo calmo e tranquilo, os anos 70 trouxeram consigo um fenômeno singular e intrigante. Era época de quaresma, uma temporada em que as tradições e superstições se entrelaçavam, criando um pano de fundo para a lenda do lobisomem.
As primeiras histórias surgiram nos campos do bairro de Tupi, mas logo se espalharam como fumaça, alcançando os limites do bairro Vila Real, próximo à linha férrea. Dizia-se que, nas noites de lua cheia durante a quaresma, a criatura meio homem, meio lobo, emergia das sombras para caminhar entre os trilhos e cruzar os campos.
A comunidade, já imersa na atmosfera mística da quaresma, viu-se envolta em um novo mistério. O temor das aparições do lobisomem se misturava com as práticas religiosas, criando uma teia complexa de crenças e medos. As rezas ganharam um tom mais profundo, e as procissões noturnas adquiriram uma carga de expectativa e apreensão.
Os relatos multiplicaram-se: moradores afirmavam ter visto olhos brilhantes entre as árvores, e alguns juravam ter ouvido uivos que cortavam a noite. A lenda do lobisomem tornou-se, assim, uma espécie de mito urbano rural, uma narrativa que entrelaçava elementos sobrenaturais com a tradição religiosa.
Os encontros com o lobisomem eram, muitas vezes, descritos como fugazes e misteriosos. Testemunhas afirmavam que a criatura parecia sentir a presença das pessoas antes mesmo de ser vista, desaparecendo nas sombras como se fosse parte do próprio tecido da noite.
A cidade, que já vibrava com histórias de fazendas e trabalhos nos campos, encontrou na lenda do lobisomem um novo capítulo, onde a natureza, a espiritualidade e o sobrenatural se entrelaçavam de maneira única. Os trilhos da linha férrea, que antes eram símbolo de conexão, agora eram percorridos por uma sombra que despertava, ao mesmo tempo, medo e fascínio.
Assim, Birigui viu-se imersa em um tempo onde as histórias de lobisomens teciam uma nova trama na tapeçaria da cidade, adicionando uma camada de mistério e encanto que resistiu ao fluxo dos anos. A lenda do lobisomem de Birigui, nascida na quaresma dos anos 70, permanece viva nas memórias da cidade, uma história que se entrelaça com as noites de lua cheia e os trilhos da linha férrea, onde o real e o místico se encontram.
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